De que vale uma greve? Para os funcionários privados a palavra greve é sinal de: 1.º- aborrecimento, já que o seu dia poderá ficar arruinado quando este se cruzar com os serviços públicos; 2.º- como o seu direito à greve, apesar de estar consagrado na lei, está sujeito a represálias internas, o mesmo não é exercido e talvez por isso o achem uma vergonha e uma injustiça. Para os funcionários públicos é a perda do vencimento do dia e a inconsequência da medida em si, leva a que seja um direito cada vez menos exercido.
E lá fora? As greves são encaradas de maneira diferente, são convocadas poucas vezes, só a mera hipótese provoca grande alarme e, quando o são, têm um peso massivo e conduzem, normalmente, a mudanças. Em Portugal acontece o oposto. A população, ao contrário do que acontece lá fora, não se reúne em torno do mesmo propósito, criando divisão, aumenta a força da outra parte, passando a greve como algo inconsequente. Outra coisa situação incompreensível é a diferença nos números da adesão, mostrando que realmente este país tem uma relação complicada com a matemática. Nunca ninguém sabe, mesmo depois da vontade confirmada e consubstanciada em fiscalizar, quantos trabalhadores da função pública fazem greve. Acho que aqui a comunicação social ou o INE poderia ter um papel clarificador bastante valioso.
Aliás no que respeita a contas, a diferença entre o governo e tudo o resto (comissão europeia, sindicatos, partidos da oposição, sociedade civil) é uma constante e sinceramente não se entende porquê.
Outra questão prende-se com os chamados “direitos adquiridos” e com as condições salariais desse parte da sociedade. Certo é que, em termos globais, a função pública ainda é um local bastante apetecível. Comparativamente, a função pública é melhor no sector médio e baixo. No sector privado a questão salarial bate, sem apelo nem agravo, o sector público no que se refere a uma posição mais elevada. Apesar disso o facilitismo na função pública dá azo à pouca responsabilização das chefias o que leva a uma relação compreensivelmente complicada com a sociedade devido a uma desorganização de meios materiais e humanos. Na função pública existe de tudo, como em todo o lado só que no sector privado, quando as coisas não funcionam acabam em “suicídio empresarial” visto que as pessoas deixam de fazer negócios por lá e a alternativa existe.
Já o sector público oferece muitos serviços exclusivos e isso leva a que, não existindo alternativa, as pessoas se sintam encurraladas na “burrocracia” e sempre aborrecidas quando o serviço não é resolvido num tempo que acham coerente. Mas existe uma coisa que eu não entendo. Sempre que se pede opinião a alguém fora do sector público sobre as greves eles dizem “se estão mal que mudem de trabalho” ou “eles já ganham tanto e ainda querem mais” ou “têm tantas regalias que deviam era ter vergonha”. Considero que a fazer-se um acerto público-privado, esse acerto deve ser feito com responsabilidade e nunca numa situação de mais para menos, explico.
O que está bem será alguém que ganhe 450 euros por mês ou será que o que está mal será que alguém ganhe 600 euros por mês? 1.º- 600 Euros por mês é pouco, acho que não há discórdia; 2.º- se 600 está mal, 450 estará pior; 3.º- não é sinónimo de eficiência, qualidade ou de competitividade a existência de baixos salários e quem se rege por estes princípios pode ter um curso e ser até ministro mas da estupidez não foge; 4.º- o acerto a fazer-se será sempre dos 450 para os 600 e nunca ao invés; 5.º- no sector público nem todos ganham 2500 euros por mês, aliás e como disse atrás, serão só mesmo as chefias o que lhes confere, ou deveria conferir, exigência e profissionalismo. Devia existir mais competência da parte das chefias e alguma facilidade em afugentar a ignorância e a falta de profissionalismo.