No passado fim de semana a Ordem dos Advogados foi a votos e ganhou o candidato que mais cedo se mostrou disponível e mais depressa começou a corrida. Os outros candidatos, sem o peso mediático de António Marinho, desvaneceram-se no pó do acelerado ritmo do primeiro e nas propostas deste. António Marinho é, como o próprio se intitula, primeiro jornalista e depois advogado. Assim sendo persiste sobre si uma aura sindical e algo conflituosa com que o mesmo parece viver bem e, de algum modo, com orgulho. E bem o pode ter já que foi ela que o terá catapultado para o topo da hierarquia da classe. Nos dias seguintes verificaram-se reacções. Umas mais solenes e típicas, outras mais ameaçadoras mas a que ficou mais no ar foi a de um antigo Bastonário, José Miguel Júdice. J.M.J., como que possuído por um diabo da Tasmânia, perdeu as estribeiras e desatou a desclassificar o recém eleito Bastonário comparando-o a Mussulini.
J.M.J. é um dos advogados mais reconhecidos da praça judicial. Já foi Bastonário, a sua opinião é sempre procurada em assuntos da classe, dá-se com o poder político e talvez por tudo isso se considere acima do resto, com direito a toda a opinião e, como tal, imune a correctivos. Talvez seja a anciania a dar mostras de que não anda longe mas as suas palavras, que inclusive se estenderam ao Bastonário cessante mostram que J.M.J. anda um pouco longe da realidade do Portugal dos Advogados, e talvez do Portugal em geral. Que classe é esta a dos advogados? Outrora uma classe de destaque, paradigma de profissão liberal, encontra-se hoje substancialmente diferente. Tal como muitas outras, sofreu muito com a massificação da minha geração o que levou a que, hoje em dia Portugal, seja um dos países com maior número de advogados per capita. Debaixo de uma qualquer pedra encontramos hoje um professor e um advogado. Isso faz com que a aura passada da classe tenha sido trocada nos dias de hoje por pouco mais que uma luta titânica para chegar ao fim do mês. É evidente que existem advogados que ganham como os bons jogadores de futebol mas, seguramente, oitenta ou noventa por cento da classe luta ou desespera com o passar dos tempos.
Tal como o resto dos Portugueses, também os advogados querem mais, melhor mas principalmente que as expectativas dos tempos do secundário se concretizem. Foi aqui que António Marinho encaixou como uma luva. Não querendo fazer exercícios de suposições sobre a sua pessoa, certo é que as suas ideias colheram na classe, provavelmente naquela mais nova. Já à época de J.M.J. a massificação se fazia sentir em força e a única pessoa, que eu me lembre, que considerou fazer umas mudanças, coerentes ou não, foi o ex-Bastonário Rogério Alves. É certo que ainda antes foi feita uma mudança, trocando um trabalho de dissertação, creio, por uma prova de exame. Não sendo esse obviamente esse o seu propósito mas essa prova é mero pró-forma já que poucos são só que ficam lá enrascados. Assim sendo J.M.J. perde em diferentes frentes, tempos, já que nem sequer deixou que Marinho se pudesse enganar e, o que é pior, perde em respeito e em falta de conhecimento de uma realidade que ainda é a sua. Digo ainda porque os convites para uns tachinhos políticos já vieram bater à sua porta e só talvez a vergonha e a contradição é que o fizeram recuar. O silêncio diz-se de ouro e, se a ele somamos coerência, obtemos diamante.
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