segunda-feira, novembro 24

Mais rápido que a sombra



Dá gosto ver a rapidez e a sensibilidade com que o Presidente da República reagiu às insinuações sobre a sua ligação ao BPN. Julgo mesmo que a rapidez foi tal que o próprio Lucky Luke coraria numa justa de fronte para o Chefe de Estado. Enche-me de orgulho ver que as capacidades do Presidente, e ao contrário do que julgava, se encontram melhor que nunca. Quem diria… depois de ver como reagiu, e continua a reagir, à crise da educação e à crise económica e financeira, dos combustíveis entre outras.
Só me faz lembrar uma frase algo reles mas que indicia bem de onde surge a urticária Presidencial: Pimenta no cu dos outros, para nós, é refresco.
Nos professores, na população em geral, a conversa é uma mas quando nos toca a nós, leia-se Presidente, esta muda de figura. De nada vale falar em pudor, fale-se antes de “pudor de quem?”. Acabo com uma frase de uma menina que acompanhava com os pais a entrevista de Judite de Sousa à ainda titular da pasta da educação. Os pais criticavam e no meio das críticas surgiu, do chefe de família, a que se pensava ser a derradeira frase: Políticos, isso é tudo farinha do mesmo saco. Replica a petiz: “mude-se o saco”. Touché.

sexta-feira, novembro 21

Querem saber?


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Para quem se quiser literar sobre a problemática educativa deixo a moção aprovada por esmagadora maioria na escola onde lecciono.
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Exma. Senhora Ministra da Educação
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Com Conhecimento à:
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Presidência da Republica, Presidente da Assembleia da República, Governo da Republica, Grupos Parlamentares, Procuradoria-Geral da Republica, Direcção Regional de Educação do Centro, Câmara Municipal de Mação, Presidente da Associação de Pais do A.E.V.H., Presidente do Conselho Geral do A.E.V.H., Presidente do Conselho Executivo do A.E.V.H.
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Os Professores e Educadores do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte de Mação, reunidos em Assembleia-geral no dia 18 de Novembro de 2008, pelas 17.40 horas tomaram posição sobre o processo da avaliação do desempenho docente, considerando que: Não é possível pensar a acção educativa sem conceber a sua avaliação, quer se trate dos alunos, dos docentes ou, de um modo geral, de todos os profissionais envolvidos no fenómeno do ensino e da aprendizagem. Como qualquer actividade humana, a educação está sujeita às mudanças que se vão operando no seio das sociedades, estruturadas em paradigmas que variam consoante as épocas. Do mesmo modo, os pressupostos subjacentes ao conceito de avaliação, bem como os instrumentos pelos quais esta se actualiza, devem ser continuamente revistos, numa perspectiva formativa, construtiva, de modo a poder dar uma resposta adequada às exigências que as sociedades modernas hoje nos colocam em termos dos padrões de conhecimento.
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Avaliar e ser avaliado sempre foram dois aspectos indissociáveis da condição de professor. Olhando para trás, ao longo das várias reformas educativas, a avaliação foi um direito que, de alguma maneira, foi negado aos professores, na medida em que todo o empenho, profissionalismo, dedicação e qualidade científica que muitos deles sempre puseram no seu trabalho foram submersos na mediania igualitária – não necessariamente justa – de uma menção de Satisfaz.Vivemos um tempo de mudança. Sabemos que qualquer mudança digna desse nome provoca sempre alguma instabilidade, encontra resistências, causa apreensões. Daí a necessidade e a importância de debater as questões em profundidade, de pensar em conjunto sobre os problemas, de tentar perceber a fundamentação dos pressupostos e operacionalizar os modos da sua articulação à prática.
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Numa altura em que o modelo de avaliação de desempenho do pessoal docente está a ser posto em prática à revelia de toda uma classe, não porque os profissionais rejeitem ser avaliados, mas porque exigem uma avaliação construtiva, não burocrática, que não perca de vista o objectivo principal da acção educativa – os alunos e as suas aprendizagens - e que não transfira para os profissionais do sistema o ónus das fraquezas desse mesmo sistema. No modelo presente, a prossecução desses objectivos é posta em causa pelas questões que suscitamos, pela sua inoperância, incongruência ou mesmo conflitualidade com normas legais:
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1. Do conteúdo da avaliação
1.1. Não é aceitável que se estabeleça qualquer paralelo entre a avaliação interna e a avaliação externa, quando sabemos que este critério apenas é aplicável às disciplinas que têm exame a nível nacional, havendo, por isso, uma violação evidente do princípio da igualdade consagrado no Artigo 13º da Constituição da Republica Portuguesa.
1.2. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 condiciona a avaliação do professor ao progresso dos resultados escolares dos seus alunos. Os professores desta Escola consideram que mecanismos como a consideração directa do sucesso educativo dos alunos na avaliação dos docentes são incorrectos e injustos e estão em desacordo com as recomendações da Comissão Científica da Avaliação de Professores (CCAP).
1.3. O documento Recomendações 2/CCAP/2008 é explícito nas indicações para a simplificação do processo e para a necessidade de não quantificar, “No caso particular da aplicação do processo de avaliação de desempenho ao ano escolar de 2008-2009, o progresso dos resultados escolares dos alunos não seja objecto de aferição quantitativa”, pela inexistência de instrumentos próprios para o efeito, “De momento, não existem instrumentos de aferição para determinar com objectividade o progresso dos resultados escolares”
1.4. Também o CCAP recomenda que “A produção de instrumentos de aferição fiáveis e de reconhecida credibilidade científica é uma tarefa complexa e morosa, a desenvolver por instâncias competentes e alheias ao processo de avaliação de desempenho”. Tal recomendação não vêm sendo cumprida, dado que a elaboração de tais instrumentos vem sendo feita nas escolas, tendo de ser clarificado quem é responsável pelo processo de avaliação, se a CCAP, a DGRHE, o Conselho de Escolas ou outra entidade.
1.5. Por que razão os professores têm de se comprometer, no início de cada ano lectivo, com metas que, desde logo, não dependem só de si, como a melhoria dos resultados dos alunos e a diminuição da taxa de abandono escolar?
O Artigo 18º, ponto 1, alínea c) do Decreto Regulamentar nº 2/2008, segundo o qual a Avaliação de Desempenho está condicionada ao “progresso dos resultados escolares esperados para os alunos e redução das taxas de abandono escolar, tendo em conta o contexto socioeducativo” sem que haja qualquer referência, no diploma, a outros condicionalismos evidentes no percurso escolar dos alunos, como os socioculturais e socioeconómicos e que, por não dependerem do controlo e responsabilidade do professor, não devem interferir na sua própria avaliação.
1.6. O documento Recomendação 1/98 do Conselho Nacional de Educação refere os factores que influenciam o abandono e de entre 25 enunciados (8 individuais e 17 externos) apenas dois podem ser considerados como referidos ao trabalho dos professores e ainda assim parcialmente, a saber:
- ausência de estratégias personalizadas (desadequação da leccionação em relação ao ritmo de aprendizagem de cada aluno);
- apoios pedagógicos reduzidos e ausência de diversificação de pedagogias. Este mesmo documento refere claramente que “O sucesso e o insucesso de uma escola não se processam dentro de uma ilha, mas são antes o resultado de um contexto socio-económico e cultural. O abandono tem uma ligação muito intensa ao insucesso e reflecte o fracasso do sistema. Estritamente através da pedagogia não se conseguirá inverter o abandono escolar. ”Gostariam os professores subscritores de conhecer documento ou estudo que actualize esta posição de forma coerente com o que é implícito ao processo de avaliação do desempenho.
1.7. Alguns dos Professores deste Agrupamento encontra-se, segundo os Artigos 44º e 51º do Código do Procedimento Administrativo, legalmente impedidos de participar no processo de Avaliação de Desempenho, devido aos laços de amizade ou inimizade criados e desenvolvidos ao longo dos anos e que poderão, porventura, ser motivo de “escusa” ou “ suspeição”.
1.8. A possibilidade efectiva deste Modelo de Avaliação do Desempenho colidir com normativos legais, nomeadamente, o Artigo 44º da Secção VI (Das garantias de imparcialidade) do Código do Procedimento Administrativo, o qual estabelece, no ponto 1, alíneas a) e c), a existência de casos de impedimento sempre que o órgão ou agente da Administração Pública intervenha em actos ou questões em que tenha interesses semelhantes aos implicados na decisão. Ora, alguns professores avaliadores concorrem com os professores por si avaliados no mesmo processo de progressão na carreira, disputando lugares nas quotas a serem definidas.
1.9. Ainda este impedimento ocorre no momento em que os Docentes propõem níveis para a avaliação sumativa dos seus alunos, dado que estarão a actuar em processo do qual irão reverter na sua própria avaliação.
1.10 Este modelo não discrimina positivamente os docentes que leccionam turmas com situações problemáticas e com maiores dificuldades de aprendizagem.
1.11. A imputação de responsabilidade individual ao docente pela avaliação dos seus alunos configura uma violação grosseira do previsto na legislação em vigor quanto à decisão da avaliação final do aluno, a qual é da competência do Conselho de Turma sob proposta do (s) professor (es) de cada área curricular disciplinar e não disciplinar.
1.12. Os docentes deste Agrupamento rejeitam a penalização do uso de direitos constitucionalmente protegidos como sejam a maternidade/paternidade, doença, participação em eventos de reconhecida relevância social ou académica, cumprimento de obrigações legais e nojo, nos critérios de obtenção de Muito Bom ou de Excelente.
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2. Dos mecanismos da avaliação
2.1. Os critérios que nortearam o primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular geraram uma divisão artificial e gratuita entre “professores titulares” e “professores”, valorizando apenas a ocupação de cargos nos últimos 7 anos, independentemente de qualquer avaliação da sua competência pedagógica, científica ou técnica e certificação da mesma.
2.2. Face a este processo de selecção dos avaliadores, e não estando atestada a validade da sua capacidade para desempenhar funções como avaliador e a preponderância da sua opinião, não consideramos verificado o disposto no art. 6:º-A do Código do Procedimento Administrativo, particularmente na alínea a) do nº 2.
2.3. A este propósito é suscitada a questão da objectividade, postulada também pela DHGRE num powerpoint apresentado no âmbito da formação contínua de professores, que decorreu em Julho e Setembro de 2008, sobre “Análise e Implicações do Quadro Normativo aplicável à Avaliação de Desempenho dos Docentes”, onde estabelece a importante “Diferença entre facto e opinião, definindo:
• Opiniões – discutíveis, contestáveis, sentidas.
• Factos – indiscutíveis, incontestáveis, constantes.e dando exemplos para cada um deles: “Está calor.” ou “Está sempre atrasado.” são opiniões, “Estão 32º.” ou “Chegou 10 minutos atrasado à reunião.” são factos.” Ora, a maioria dos itens sobre os quais seremos avaliados consistem de opiniões e não de factos como se concluirá facilmente da análise das fichas de avaliação.
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3. Dos instrumentos de avaliação
3.1. Na ficha de avaliação pelo Presidente do Conselho Executivo (PCE)
3.1.1. Relativamente ao parâmetro A.1. não está esclarecido o que significa o cumprimento de 100% do serviço lectivo, uma vez que o professor pode estar ausente por acompanhamento de alunos em visita de estudo, sendo deste modo sempre penalizado, porque ou não deu a aula (A.1) ou não participou ou dinamizou actividades previstas no PEE, PAA e PCT’s (C.1.).
3.1.2. Como se vai avaliar objectivamente o parâmetro “Cumprimento do serviço do apoio educativo e do apoio individual aos alunos” (A.2.1.1)? E, no caso de entender que “o docente propôs, dinamiza e colabora sistemática e continuadamente em actividades de apoio educativo e apoio individual aos alunos” (A.2.1.1.4) qual a distinção quantitativa?
3.1.3. Se, em relação ao parâmetro B.1.2, o docente tiver definido os objectivos pelo mínimo terá grandes probabilidades de os superar. Pode o PCE garantir que os objectivos estavam clara, objectiva e honestamente definidos?
3.1.4. Como é que o PCE avalia objectivamente “o empenhamento e a qualidade da participação” de todos os docentes nas estruturas de orientação educativa e nos órgãos de gestão (C.3.1)?
3.1.5. Não será utópico que aos professores, para além das múltiplas e absorventes tarefas e funções, ainda lhes seja exigida a “participação e dinamização de projectos de investigação, desenvolvimento e inovação educativa” (C.4)?
3.1.6. O parâmetro D implica a participação em acções de formação contínua, o que é apenas obrigatório para docentes vinculados e para efeitos de progressão na carreira. Os professores contratados não têm de fazer formação e são até preteridos no acesso a acções de formação face a colegas vinculados. Como classificar tendo em conta estes aspectos de descriminação?
3.1.7. Parâmetro E. “Relação com a comunidade”, baseia-se apenas nos objectivos individuais? O que é preciso fazer para ter a nota máxima? Como tratar sem beneficiar as situações de professores locais de outros que à partida têm menos conhecimento, familiaridade e proximidade à comunidade?
3.1.8. No parâmetro F.1.3. o avaliador é penalizado se atribuir “à maioria dos docentes avaliados igual classificação em todos ou quase todos os itens e parâmetros”. Afinal, não é possível isso acontecer, sobretudo em áreas disciplinares onde se trabalha muito em equipa, i.e., os professores dos mesmos anos planificam aulas em conjunto, elaboram testes em conjunto e partilham experiências e recursos?
3.1.9. Possui o PCE instrumentos de registo de todas as observações que tem de efectuar? Se não tem, o processo não pode ser iniciado. Se tem, temos direito a conhecê--las.
3.1.10. Tem o PCE capacidade e tempo disponível para avaliar com objectividade, coerência, fundamentação e justiça todos os docentes deste agrupamento em todos os indicadores e parâmetros? Quais as garantias?
3.2. Na ficha de avaliação pelo Coordenador de Departamento/Professor Avaliador:
3.2.1. Parece haver incoerências no parâmetro A., uma vez que o parâmetro A.1. “Correcção científico-pedagógica e didáctica da planificação das actividades lectivas” engloba todos os outros, i.e., as estratégias, metodologias e recursos fazem parte da planificação.
3.2.2. No parâmetro B.1. há uma redundância pois os objectivos e orientações já estão incorporados nos programas.
3.2.3. Quanto ao parâmetro B.3., para além de poder ser questionada a questão da eficácia da utilização das tecnologias na aprendizagem dos alunos, assim como a sua acessibilidade, também é necessário definir o que são “recursos inovadores” e se a única forma de observação deste parâmetro são as grelhas das aulas assistidas. Afinal vamos ter de fazer planos de aula “especiais” para quando o avaliador está presente ou será simplesmente mais honesto e natural seguir o nosso plano de trabalho?
3.2.4. O conteúdo do parâmetro C, itens/indicadores C.1., C.2., e C.3., remete para muito do que já está incorporado no parâmetro B., enquanto o item C.3. remete para situações extra lectivas que não podem ser observadas.
3.2.5. Possuem os Coordenadores de Departamento/Professores Avaliadores instrumentos de registo e critérios de todas as observações que têm de efectuar? Se não têm, o processo não pode ser iniciado. Se tem, temos direito a conhecê-las.
3.2.6. Têm os Coordenadores de Departamento/Professores Avaliadores competência científica e/ou pedagógica para avaliar com coerência, justiça, fundamentação e objectividade todos os docentes que lhes estão atribuídos, mesmo que não pertençam à sua área disciplinar ou eventualmente tenham uma preparação científica, académica ou até pedagógica superior?
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Finalmente, é válida e/ou coerente a legitimação de uma divisão na carreira docente que decorre da antiguidade na carreira num momento nunca antes pré-determinado, quando alegadamente o novo Estatuto da Carreira Docente pretende pôr fim à progressão assente na antiguidade?Por todas as questões suscitadas, qualquer acção de implementação do processo de avaliação neste Agrupamento seria infundada, pelo que, e até que sejam esclarecidas estas mesmas dúvidas, nenhuma acto será praticado no âmbito do processo de avaliação.
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Mação, 18 de Novembro de 2008(Lido e aprovado pelos professores subscritores)"

segunda-feira, novembro 17

G-20, 19, 18, 17... 3, 2, 1... Bbuumm!


© Chappatte in "International Herald Tribune"

A propósito da cimeira do fim de semana...

O herói do dia.



Que esta pessoa altruísta e corajosa, que visível e compreensivelmente ficou afectada pelo sucedido, não fique sujeita à sua sorte e vergada a certas situações incompreensíveis neste país, como a falta de reconhecimento da necessidade de apoio psicológico em situações extremas deste tipo. Força amigo. Deixo o link.

Vários golpes.


Vivem-se tempos críticos ao nível educativo. Apesar de ter este espaço, pouco visitado é certo, nunca o usei como meio de arremesso irracional sobre as políticas educativas. Não poucas vezes tive vontade de usar o corriqueiro vernáculo, rude, sujo e rasteiro ou de me atirar com toda a força e raiva aos responsáveis por uma dinâmica intransigente, irresponsável, imprudente, injusta e obtusa.
Tenho-me mantido atento, dentro do possível, a todos os programas, debates, artigos publicados e demais meios informativos, no sentido de perceber se a população já entendeu o que se passa e qual é o fundamento deste descontentamento do qual sobeja este protesto diário e maciço.
A leitura feita por todos prende-se com a avaliação. Finalmente já todos perceberam que o problema não é o “sim ou “não” à avaliação mas sim o modelo imposto, e não proposto ou discutido. Dirão uns: o patrão pode impor. Sim é certo, mas nenhum modelo ou processo se sustenta em ar, isto é, sem a sua base de trabalho. Existem muitas coisas estranhas dentro do edifício educativo, até fisicamente na 5 de Outubro, quer a governação tenha génese neste ou naquele partido político. Parte logo pela eleição do Ministro que tutela a Educação. Nunca, e corrigir-me-ei no caso de estar a cometer uma inverdade (em estilo político), houve um Ministro da Educação que partisse da classe que visa tutelar, a dos professores e educadores.
Com as devidas diferenças, quem responde pelos advogados, o bastonário, é um advogado, tal como no caso dos médicos é um médico, nos diferentes ministérios onde quem o tutela não é alguém da classe, verificam-se sempre dificuldades de entendimento. Faço questão de sublinhar que só sabe da poda quem anda na vinha – desconstruíndo – só perceberá das questões educativas quem anda pelas escolas. Sempre me pareceram estranhas as opções tomadas e os resultados estão à vista. Para não falar que é de consenso geral que a classe à qual pertenço é uma das basilares a uma democracia salutar e robusta e uma das que mais investe em formação, quer em tempo, quer em dinheiro, quer em projectos familiares. Adiante…
O que transtorna os professores? Falarei por mim, sabendo que muitos dos professores espalhados pelo país, assinalariam este, aquele, senão todos os pontos que vou focar, e mais algum que irei, certamente, omitir.
A falta de responsabilidade por parte dos encarregados de educação na vida, civilidade e bons modos dos seus filhos, para mim é o mais decisivo. Bem sei que nos dias de hoje as famílias não têm tempo e confiam, literalmente, na escola a educação dos seus filhos. Tal como uma linha de montagem: O rebento nasce, de seguida é entregue às escolas, nós moldamos a criatura e no final o entregássemos já formado. Isso não é correcto e nem aos professores cabe essa função. Muitos pais não vêem, nem transmitem a ideia de que a escola é o melhor investimento que se pode fazer. Serve para aprender, os meninos não querem? Temos paciência, mais tarde entenderão. Parafraseando o neurologista João Lobo Antunes “Ora, a Educação serve fundamentalmente para dar instrumentos de felicidade às pessoas. Ora, a felicidade não é gratuita, tem de ser construída. A escola não serve para manter alunos felizes. Já o Presidente Wilson, dos Estados Unidos, que antes era reitor da Universidade de Princeton, dizia que a preocupação de que os meninos têm de ser felizes na escola não faz sentido.“ O que sentimos é a vitória da imundície que é o eduquês. Quem não respeita os pais, como identificará nos professores um agente a respeitar? Episódios de desrespeito existem todos os dias numa dinâmica “com direitos mas sem deveres.”
Guardo uma ideia da minha infância: “Olha que eu não te quero educar ao açoite. (…) Professor, se ele se portar mal, sacuda-lhe o pó e diga-me algo que eu depois trato do resto”. É óbvio que bater por bater é errado, que é uma acção que deve ser sempre precedida por conversas responsáveis mas não é por nada que um sinónimo de bater é castigar, por vezes não faz mal, venha quem vier, venha até a letra alterada recentemente da lei do Código Penal.
A reboque desta, estão o facilitismo dos currículos, a pressão superior extra e intra-escolar para que existam bons resultados como se a escola fosse uma fábrica de parafusos. Se o metal é fraco, se este não participa com vontade, como é possível fazer dele um parafuso? Na fábrica troca-se o metal, nas escolas tem que se arranjar alternativas não para ser, por exemplo, um prego, mas para ser parafuso à força. Isto é um contra-senso já que se promove, não a universalidade do direito à educação, mas sim a universalidade do direito à passagem e do pouco empenho.
O Estatuto do Aluno que deveria ser lido por todos os que, como pais ou fazedores de opinião, criticam os professores, porque se há coisa que o português se alvitra de ser é professor, treinador da bola ou juiz. Os cursos CEF’s ou os EFA’s, que não fazem mais do que dar lastro ao facilitismo existente, alimenta o crescimento espumoso das estatísticas ao nível da UNESCO, tal como os exames nacionais e que não resulta de “leituras” diferentes entre as escolas e ministério como parece ser hoje o caso do “ajuste” ou “esclarecimento” sobre o estatuto do aluno no referente ao regime de faltas. É real e uma aberração. A própria ideia das aulas de substituição, que eu defendo, mas que carece de uma aplicação mais justa. O próprio sistema de distinção entre professores titulares e os restantes que apenas leva em conta os últimos sete anos, quer para mim, com seis anos de “casa”, quer para colegas com vinte ou trinta anos na defesa da arte.Muitas outras ficaram por explicitar mas como é possível ver não é apenas a questão da avaliação, essa foi a gota de água. Para quem se arroga à posição de crítico faça um favor, leia, estude as coisas e não aventem “tácticas”, concordâncias ou posições sem a mínima instrução sobre o tema. Esse estar não serve outro propósito que o de defender um sistema que está a cair aos poucos e se irá demolir se não for responsavelmente alterado e reforçado. Após esta tempestade ainda estará por vir a necessária discussão sobre o sistema educativo que o país precisa.

quarta-feira, novembro 5

Aconteceu na América



© Chappatte in "International Herald Tribune"

Hoje é daqueles dias difíceis de classificar, de caracterizar com um título ou um mote, ilustrar com uma imagem ou um cartoon. Talvez seja uma daqueles dias do tipo “onde estavas tu no vinte cinco de Abril? Apesar de ser difícil eu não sou desistir e assim…
Olhando, principalmente para os meios de comunicação e para as imensas transmissões nota-se uma enorme alegria, esperança, fé, vontade popular em contribuir para uma nova democracia, um novo tempo, uma nova era. É como se globalmente o mundo estivesse atingindo o “estado orgásmico óptimo” conseguido, em certa forma, com Roosevelt, Kennedy ou Mandela. Era como se hoje, ao sair de casa, tudo tivesse mudado, os pobres deixassem de o ser, os acidentes não acontecessem, as guerras terminassem, os alunos estivessem sossegados J mas afinal… estava tudo na mesma e, algo me diz que assim vai estar por uns tempos.
A aspiração mundial, assente numa alegria colectiva sem precedentes, mostra muitas coisas, por exemplo, a falta, em cada país, de liderança capaz, de uma defesa determinante de valores compatível com os anseios das pessoas baseados em critérios éticos, morais, de justiça ou empregabilidade e prosperidade. É como se o mundo procurasse o giant leap for mankind. Será este dado com Obama? Estou ou sou meio céptico. Dos dois candidatos, este era definitivamente o que me nutria mais consideração, o que me deu mostras de mais capacidade mas… coisas surgem-me na mente: “Muita areia para a sua camioneta”, “Uma andorinha não faz a Primavera” entre outras. A tarefa ou tarefas, surgem-se colossais – “tempos extremos requerem medidas extremas” e logo aí será feita uma bifurcação do caminho. A primeira preocupação será sempre a política interna deixando a política externa, provavelmente, não para segundo plano mas, certamente, não estará no foco inicial da sua atenção.
Outra situação interessante e uma lição para muitos países centra-se na capacidade de resolver, não completamente é certo, a problemática racista em apenas quarenta anos. Desde o dia que Rosa McCauley, mais conhecida por Rosa Parks, decidiu em 1955 completamente sozinha num acto desgarrado e contra as convenções estabelecidas, não ceder às mesmas e ocupar um lugar para “brancos”, que este movimento se iniciou e agora tivesse tido um daqueles momentos determinantes. Merecem também referência as palavras de John McCain que acolheu para si a tarefa utópica de assumir as cores do Bush, provavelmente, o pior chefe de estado do mundo ocidental desde a alvorada dos tempos – “Foi uma eleição histórica. Para os afro-americanos, principalmente, e compreendo o orgulho que sentem hoje. Não há melhor prova de que os EUA percorreram longo caminho do que a eleição de um afro-americano para presidente.” (…) “Nós discutimos as nossas diferenças e ele prevaleceu. Vivemos tempos difíceis e eu ajudá-lo-ei a enfrentá-los. Temos de descobrir caminhos para nos unirmos.” Palavras dignas de um grande Homem. Resta agora viver um dia de cada vez até ao dia da tomada de posse e depois dele… logo se verá. O Sol nasce todos os dias por algum motivo, certo?

terça-feira, novembro 4

De cavalo para burro



O sentido de justiça do OA de 2009, por outras palavras, do Governo, é semelhante à perseguição feita pelos cristãos durante as cruzadas. Então vejamos o exemplo de uma calinada, em tamanho, comparável ao Mosteiros dos Jerónimos. Discorramos em duas ideias base: Diz-se que é necessário ter consciência ambiental – ok, punam-se os veículos que mais poluem, vulgo, os que emitem mais partículas e dióxido de carbono. Tudo bem, é justo, seguinte: Vivemos numa época de recessão económica, as pessoas motores da troca comercial de moeda não gastam, retraem-se e, por exemplo, as empresas de automóveis estão em dificuldades por essa Europa, quer cá como lá fora. Suspendem produções e isso afecta toda a indústria paralela da indústria automóvel. Sim porque um carro anda sem assentos mas sabe mal, anda se travões ou instalações eléctricas mas é perigoso, sem pneus mas é inseguro, desconfortável e... estúpido. Pois bem, guardo o “estúpido” e este conduz-me ao Governo. Quê fez ele? Fomentar alguma poupança? Evitar ao mesmo tempo uma retracção massiva do consumo? Penalizar, no caso da indústria automóvel, quem mais polui, quem mais consome e quem opta por não utilizar filtros de partículas (no caso dos motores a diesel)? Tudo correcto não é? Sim mas da fronteira para fora.
Segundo o ponto de "bista" do Governo, ou seja Primeiro-Ministro e Ministro das Finanças, a ideia é outra. E qual é, perguntam vocês. Simples – Quais são os veículos que mais se vendem? Diesel são quase 70% do parque automóvel. Dramatização de um pseudo-raciocínio.
Diz o Zé: "Oh "Nando" (Teixeira dos Santos) como é que nós arranhamos mais uns cobres nos carros?"
Resposta iluminada: "Oh Zé é fácil, os diesel vendem-se como cerveja nas queimas, vamos taxá-los!"
Zé: "Como?"
Nando: "Oh Zé nem pareces tu, é fácil: Os que têm filtros pagam por ter e os que não pagam por não ter; os que emitem menos CO2 pagam por isso mesmo; aumentamos, mas menos, o preço dos carros a gasolina que assim eles começam a comprar a gasolina..."
O Zé interrompe: "então e a poluição!??"
Nando: "Não podes querer tudo! Ólh-ó défice! Pensa, assim os totós compram carros a gasolina – o combustível é mais caro e gastam mais!"
Zé: "Oh Nando és um espectáculo!"
Nando: "Eu sei".

Deixo uma infografía do JN que atesta a tal estupidez não orçamental mas política, ambiental e racional.

segunda-feira, novembro 3

Pausa porreira



O país já está xoné por isso, também... fiquem com a ovelha xoné.

domingo, novembro 2

Rácios de sur(estupi)dez...


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Orelha guicha – quem está atento, com as badanas/orelhas no ar.
Autoridades de supervisão em Portugal – Orelhas moles…

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E o BPN nacionalizou-se… Uma pergunta ganha logo corpo, que raio fazem as entidades reguladoras neste país, e concretamente na banca? O BCP fez o que fez, o BPN acumula dívidas em 700 milhões de euros e o Banco de Portugal ou o Governo, apesar de dizerem que estavam atentos, deixaram as coisas chegarem a este ponto. Cavalgo na seguinte metáfora: de que serve a um professor estar atento à fraca performance dos seus alunos se este não toma medidas atempadas e se os catraios ficam todos retidos (chumbados)? Será chamado de mau professor, pelo menos. Ora façamos o mesmo para, por exemplo, Vítor Constâncio. Que raio faz este senhor, para além de falar em rácios, acertos, solvabilidades, prazos, processos e conversas deste tipo, que não seja cobrar-se religiosa e dispendiosamente mês após mês dos nossos impostos? Os bancos roubam, fazem aumentos de capital virtuais, vão à falência, ou quase se não fosse o bolo que o estado acabou de cozinhar, e a este senhor nunca lhe são acatadas responsabilidades apesar de as ter. Não é prática democrática ter direitos, por exemplo ao salário, e deveres, por exemplo fazer o seu trabalho? E que ninguém diga que o senhor se escusa de que a lei nada lhe pode ou deixar fazer. Se já chegou a essa conclusão o mais que tem a fazer é pedir para que os seus poderes sejam melhorados/modificados. O que nunca pode acontecer é este tipo de saber estar malandro com todos os traços característicos de isso mesmo: Bem-falante, fluente em conversa mole, ávido em discursos longos, bolorentos e extenuantes para os ouvintes e uma postura genérica de virgem Maria desonrada. Vai sendo hora de te fazerem “o acerto dos prazos num processo expedito e que te terminem a solvência de patrocínio público”