domingo, julho 22

O passar do tempo e o reviver implacável do mesmo fado


A maioria das pessoas que vem ao blogue ler-me, conhece-me e sabe de onde sou. Para quem não sabe, deixo uma dica: estou sentado na minha sala com as janelas abertas olhando o sopé da Serra da Estrela e a cidade da Covilhã. E porque digo isto hoje? Também estou virado para a minha tv que passa há já demasiados dias as imagens deprimentes dos fogos florestais. Passam estas imagens e do Governo não há uma mínima palavra como se por esta altura as populações e os bravos bombeiros estivessem ao abandono.
Diria que estão na realidade. Não se sabe dos ministros, não se sabe de quem governa ou faz que governa o pagode.
No meio de tanta desgraça em tons tão intensos como as temperaturas dos dias e dos fogos deflagrados, dei por mim a olhar para a minha encosta serrana, aquela que já vi arder e ficar em completo luto, tal como a cidade. Ver tudo negro, morto e passar por essa situação foi das situações que melhor me lembro dos anos noventa. Sempre vi noticiários obrigado e ganhei-lhes o gosto e tenho presente que o primeiro grande incêndio em Portugal aconteceu precisamente nessa época. Lembro-me muito bem do antes e do depois. Da vida completa e colorida à morte negra e desoladora. Foi assim. E tem sido assim uma vez que a minha serra não voltou e nem voltará a ter a mata que outrora envergava. Agora olho para lá e também para os noticiários e penso que, qualquer dia, ainda que não haja mais do que mato e giestas para serem consumidas, o fogo há-de voltar a iluminar a noite, o ar quente e irrespirável há-de ter que se inspirado de novo, havemos de ter de ajudar outra vez e ficará no final tudo como esteve há mais de vinte anos atrás.
Estará a ser feito algo para que isso não suceda? Nada, como também não foi feito no resto do país. O combate aos incêndios só se sabe fazer com tanques cheios de água e combustível, peitos cheios de força e resistência e contratos de meios aéreos seguramente a peso de ouro. Mas o combate não se faz assim. Faz lembrar a segurança das viaturas. Existem dois tipos: a passiva e a activa. Ninguém considera que um para-brisas ou a suspensão é dispensável nos carros mas ainda assim só se lembra que são os travões, os pára-choques, airbags ou os cintos de segurança que sustêm a vida no modo activo. Pois mas os outros também são essenciais. 
O mesmo sucede com a prevenção e esta não existe. Aquela encosta que se ergue maciça e portentosa diante dos meus olhos poderá pouco sem a justa prevenção. Aquela encosta deveria estar limpa (peguem no presos, nos beneficiários do RSI, nos militares e também em voluntários - eu vou), deveria ter caminhos abertos para facilitar a limpeza e o combate aos incêndios (que hão-de voltar) e não os passeios próprios d'época porque a malta continua a ser burra - é irreal continuar a ver condutores a deitar beatas, algumas ainda vivas, para a estrada -  e deveria ser convenientemente vigiada.
Acabem com as queimadas estúpidas, punam os prevaricadores e enrijem a legislação de manutenção para o privado e o público e as penas para os incendiários conscientes ou negligentes. Promovam o retorno do pastoreio e de todas aquelas artes antigas que mantinham e preservavam aquele ouro verde. Em preto, aquela e todas as encostas, não servem para nada. Parece que quem decide, as bestas políticas, ganham com estas desgraças. E das duas uma: ou ganham e merecem ser empaladas ou então não sabem mais e para além do normal empalamento (são políticos têm que ser empalados) devem ser destituídos para nunca mais voltarem. Temos que ser mais exigentes...
Das imagens que vejo sobressaem a falta de coordenação, a falta de combate à nascença, de meios (impossível ter meios para combater as frentes que se deixaram crescer) e o silêncio surdo de quem manda. É ridículo. E aqui da minha encosta... Vai fazer-se algo? Vai a região de Turismo da Serra da Estrela ou a Câmara Municipal da Covilhã precaver-se? Nada. A região de Turismo é um poço putrefacto de cunhas e boys. De alguns já é uma sorte a capacidade que têm em saber escrever o seu nome sem erros e letra legivel. E da Câmara? Igual. Só apetece mesmo insultar o bem falante edil camarário para que a notícia e a procedimento judicial se construa (como já aconteceu) para com a publicidade do caso alertar para o facto. Mas o Sr. Pinto tem mais que fazer, nomeadamente, respirar, manter o bronze e fazer que estuda. Pena que tenham dado com o esquema à lá Relvas não é Sr. Pinto... já não vamos fazer tantas cadeirinhas... Gostei de vê-lo com a máscara de preocupação em relação aos desgraçados trabalhadores do data center da PT em cujos terrenos, os melhores da cidade descontando a encosta protegida por leis a cobro da estupidez autarca, se ergue e que foram cedidos à borla ao Sr. Bava. isto para já não falar no negócio da barragem... Mais um que não merece o ar que respira.

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