quinta-feira, julho 12

Coisas graves e greves

Hoje sucede o segundo dia da greve dos médicos. Não importa aqui destilar o rol de consequências que a mesma origina. É uma greve, a ideia será essa: chamar a atenção para a população sobre situações da classe e para alertar o poder de que há atitudes que devem ser mudadas ou tomadas. E se o ministro entende mas prefere apontar baterias para as reformas em curso, a população pelo que ouço, entende a posição, está solidária principalmente pelos chavões que se criam: os médicos querem a manutenção do SNS, querem ser contratados a valores coerentes com a sua valia na sociedade e querem que essa contratação traga mais estabilidade à classe. Como dizia, o povo percebe, dá fé e força, a maioria pelo menos.
Hoje também, vai acontecer simultaneamente, a manifestação dos professores em Lisboa. Quais as reivindicações? Por estranho que pareça, muito semelhantes às dos médicos. Os professores também insistem que o sistema educativo com as inúmeras modificações fica cada vez mais moribundo, com menor qualidade, que o sistema de contratação está caduco, existindo cada vez mais contratados permanentes, que as modificações de horários e dos currículos irá enviar para o desemprego um valor incalculável de professores contratados (muitos com mais de uma dezena de anos de leccionação ano após ano) e que muitos dos professores do quadro irão ver a sua vida, em todas as suas vertentes, alterada numa situação sem par. 
Como é que a população vai ver esta manifestação? Será igual? Será que a população percebe o que se está a passar? Quer saber? Creio que não. Enquanto que a acção, ou a falta dela, ou a actuação em más condições por parte dos médicos mata pessoas directa e rapidamente, o trabalho ou a valia dos professores não parece causar esse dano. "são muitos" ou "são uns calões" ou "é preciso pô-los na ordem". O trabalho dos professores não mata pessoas mas mata a sociedade lentamente, sem urgências, de mansinho e essa situação não é perceptível pelas pessoas, não a acham tão grave. Não é por nada que ao fazer caracóis, os mesmos são feito numa panela com o lume brando, para que eles não se apercebam do que lhes vai acontecer. Uma morte lenta, indolor. Com os professores acontece isto mesmo. Para a população será só mais um birra, mais uma. E é assim. Mais tarde, nos noticiários ser-me-á dada razão, ou não, como em tudo e desde sempre. Mas vou tê-la.

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