terça-feira, junho 19

Enxames de exames

Ser ministro não será tarefa fácil, tenho-o por certo nem que seja apenas pela responsabilidade que se assume carregar. Creio que seja um serviço muito gratificante nomeadamente quando os resultados são alcançados e estes sobrevivem ao passar do tempo de mão dada com o reconhecimento dos parceiros e das pessoas, principais interessadas no urdir sem falhas da máquina. Mas repito, não é fácil.
Nunca será fácil quando vamos para a posição por sermos bem falantes ou por sermos escolhidos sem reunir o que é necessário para o ser. Isto passa-se com o ministro da educação. Era bem falante mas pouco mais (espero ainda assim que saiba da área dele). A das tarefas de um primeiro-ministro é a da escolha criteriosa das pessoas a quem ele confia o olhar clínico para uma determinada pasta e Passos Coelho começa a cheirar a Sócrates, já acertou em algo? Voltando...
O iluminado ministro da educação sempre carregou com ele o estigma avaliativo, algum recalcamento, e mal pôde desatou a inaugurar exames (não havendo verba inaugura-se o que se pode). E agora vêm aí mais uns quantos. Mas existe alguma base sólida que indique que a proficuidade de exames mudará algo? Aqui vou-me armar em ministeriável e vou dar uma nota sobre o interior de uma sala de aula. No final do ano, e poderão vir aqui todos os meus alunos para me desmentir, acabo sempre o mesmo com algumas perguntas. Mostro a avaliação a que se chegou, resultante do seu trabalho e eles dizem de sua justiça. Posteriormente, e tal como no final de cada período, peço que me digam qual ou quais as coisas que eles acham que poderiam mudar em mim, já que eu raramente fico satisfeito com as notas e assumo para mim esse pecado. E todos mas todos mesmo indicam que eles podiam fazer mais e que às vezes somos bons, procuramos a excelência mas não chegamos lá. A excelência não se encontra apenas naquele aluno que vai com a barriga cheia de vinte's para a universidade. A excelência pode ser atingida por um aluno com dificuldades e que se transcende e atinge catorze ou quinze. Comigo na sua frente tentarei que chegado ali prossiga o esforço para o dezasseis mas reconheço-lhes grandeza. 
Todo esse esforço poderá num exame não ser patente, lembro-me de uns alunos com quem tenho/tive o prazer de trabalhar que nos dias de prova a pressão pode com eles. Não sabem se ácido-base ou se electromagnetismo? Sim sabem, eu vi nas aulas que sim. Colocaram dúvidas, formaram o raciocínio lógico sobre os temas e aplicaram os mesmos de um modo consistente. 
Este ano andei pouco motivado com as suas avaliações e então numa das turmas perguntei a quem se devem a responsabilidade das avaliações? E todos naquela sala disseram alunos, professores, pais e da escola. "Ponham por ordem". Então os alunos são os principais responsáveis e, segundo eles, com mais de metade da responsabilidade. Tinha para mim como aluno e confirmei esta teoria a partir da posição de estrado que do aluno depende quase tudo. E pego só nos casos extremos: se um mau aluno tiver a sorte de ter um bom professor o resultado vai ser igual a nada. Quando uma cabeça não quer nada lá dentro, não reconhece vantagens em estar ali, nunca irá esta dar nada. Já se o aluno for bom e se o professor for mau, o aluno apenas precisa de pegar no livro e terá por certo uma boa avaliação. Um mau professor não sabe para avaliar de modo difícil e o miúdo estudando alcançará os resultados que procura. É óbvio que não se pretende que existam maus professores, que os há, mas ao sistema interessa mais alterar este activo de mau para bom, na medida em que este queira. Não querendo, rua.
O problema na escola centra-se mais na questão do porquê? Os alunos muitas vezes andam ali por andar, não vêem lógica naquele "sobe e desce a escada, entra aqui e sai dali". A escola portuguesa não tem a capacidade de lhes oferecer um percurso que lhes crie sentido para o futuro. E não será a introdução de exames que irá mudar o estado das coisas, fala quem o pode dizer com propriedade: as minhas turmas tiveram melhores notas que a média nacional nos testes intermédios. Ainda assim eles sabem o que aquelas notas me dizem: é preciso trabalhar mais.
Querem melhor notas ou melhor escola? Esta é a pergunta que têm que se responder. Podem ter a primeira não nunca terão a segunda. Já se conseguirem a segunda, terão na certa a primeira. Mudem o ministro mas matem tudo o que está dentro desse ministério porque já se percebeu que os ministros mudam mas as fraldas aparecem sempre sujas. O bebé não aprende a ir ao penico. Deixo também uma nota para uma iniciativa de um grupo de alunos que se manifesta de um modo muito inteligente durante esta época de exames. Apreciei a iniciativa e é esse o caminho. Pena que o povo português só se mova pela selecção ou pelas cândidas palavras quando alguém morre, nem que tenha sido uma besta. No que interessa...

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