sábado, maio 12

Bernado Sasseti



Quando ouvi a notícia, almoçava antes de voltar para a escola para terminar o dia, pensei: porra... como foi possível!? Doença? Entrado no carro passadas umas horas e já construindo o caminho de regresso ouvi que tinha sido acidente. Pensei: porra 41 anos! porra a tirar fotografias, Bernardo!? É nestes momentos que eu não acredito em deus nenhum, maior ou menor. Não há porque se houvesse isto não aconteceria e não me venha a beata de turno dar a balela do livre arbítrio porque ainda lhe mordo. 
Este tipo tinha o verdadeiro espírito Da Vinci: onde "tocava", tocava sempre em perfeição, fosse música, fotografia, pintura... Dele apenas sabia do seu precoce talento e que possuía uma extraordinária relação com o piano, que me fazia com a sua simplicidade com ele, querer ter um para mim, ter a mesma poesia na ponta dos dedos, a mesma energia e imaginação naquele quadro onde se pintam infinitas "telas" maravilhosas a poder de branco e negro. Recordo a equipa brutal que fazia com outros dois grandes, Mário Laginha e Pedro Burmester e que tinha em mente ver quando a providência mo permitisse. Já uma vez aqui escrevi que a verdadeira essência da existência não se mede pela capacidade de produzir dinheiro ou dominar a ciência. É a arte, as várias artes, o maior bem que o Homem pode acolher para si. Não se explica, vive-se, garante emoções e vezes, sem conta, estados de reflexão que é o que nos distingue dos bichos e nos transporta para um estado maior. Para além das questões pessoais, perdeu-se um marido e pai de família, filho e irmão de alguém, sabemos o que ele produziu e ficamos tristes não só pelo que ele já nos tinha dado do seu génio mas daquilo que ainda poderia dar o que, seria na certa, imenso. Não consigo pensar em nada mais do que: porra, não é justo. Tanto gajo reles que continua, sem morrer, a gastar o ar da gente boa e valente e tipos desta craveira que vão assim, num flash.

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