terça-feira, fevereiro 21

O querer separar de águas


Ao abrigo do carnaval decidi ir confirmar se na capital estava instalado o bulício da praxe. Enganei-me. Lisboa no domingo pela noite até pareceu terra sem rei nem roque. Não se via ninguém o que serviu para treinar o pouco estofo das minhas capacidades de orientação na metrópole. E porque falo nisto?
Porque acabei de ler uma notícia da metrópole que…diz assim:
“O Conselho de Administração da Assembleia da República manifestou-se, mais uma vez, contra a introdução da água da torneira nas reuniões parlamentares, argumentando que o seu custo é quase 30 vezes superior ao da água engarrafada (…) Num documento enviado aos deputados, o Conselho de Administração do Parlamento sustenta que a água engarrafada servida nas reuniões da comissão custa 259,20 euros por mês. Para a água da torneira, o valor a que se chegou foi muito maior. O cálculo incluiu os custos de pessoal “para o enchimento, limpeza, colocação e arrumo dos vasilhames” e chegou à cifra de 2730 euros – cerca de dez vezes o valor para a água mineral. O Conselho de Administração também considerou o custo dos jarros em si, avaliados em 4680 euros – o equivalente a 18 meses de água mineral.” In Público.
Diversas considerações rasgam-me a cabeça. Os valores envolvidos neste estudo, as minhas reuniões e os acessos de sede que sofro nas mesmas e as diferenças que parecem existir entre pessoas que são semelhantes, única exclusivamente, trabalham em locais diferentes – um numa escola do interior esquecido e os outros na casa da democracia. Vou-me às considerações: quando eu tenho uma reunião, e tenho sempre mais do que aquelas que eu gostaria e acho úteis, tenho que prever se vou ter sede. Quando isso acontece faço assim: abro a carteira, retiro uma moeda e compro uma garrafa à medida da sede que previ ter. Pergunto porque isso não sucede a esta gente? Porque terei eu que pagar pela minha água e eles não?
Segunda consideração: Porque terão que ser estas pessoas melhores que nós? Pergunto-me sinceramente… Ora vejamos: ganham mais do que eu, têm acesso a mais variedade de tudo, têm mais férias e regalias mas porquê? Será que o trabalho feito tem justificado esta disparidade? Creio ser importante rever séria e profundamente estas espécies de direitos adquiridos. Terceira e última consideração: os valores inscritos. O valor de água gasto em cada comissão é digno de profunda meditação principalmente quando pensamos no número e nas grandes decisões que se devem tomar nestas comissões pífias. O cálculo realizado sugere…um putativo ajusto directo ao sobrinho de alguém. Pego só na questão do custo dos jarros. 4680 euros em jarros para água. Eu não sei quanto custa um jarro mas crendo que um jarro de 3 euros será mais que digno para estes senhores (deveriam beber de um bebedouro de cavalos ao estilo farwest) os mesmos 4680 euros dariam para 1560 jarros! Sabendo que existem 230 deputados nas cavalariças o valor obtido daria para, aproximadamente, 7 jarros de água por deputado. Ora bem, sabendo que às segundas só trabalham no período da tarde e que às quintas é normal encontrar reputados deputados nos alfas a caminho do norte, os sete jarros seriam excessivos. A questão não é, que raio de contas são estas mas sim como é possível que ainda estejam estes idiotas a disparatar a torto e a direito com os meus, os teus, os nossos dinheiros!?
Repuxando de novo o tema equino para aqui…de nada serve ver os dentes destes senhores em vésperas de eleições se posteriormente não lhes pudermos espetar as esporas no lombo para lhes endireitarmos o trote.

1 comentário:

Fujiko disse...

Ali parece um hospital
Onde quase tudo falta...
Por isso, nenhum se cura
E já só morrendo têm alta.

Fernando Pessoa, adaptadíssimo.

O próprio: vivito y coleando, por estes dias, na Fundação Calouste Gulbenkian.