Por esta altura a tida, em tempos, como geração rasca encontra-se à porta dos trinta anos. Isto devia prefazer com que a mesma se encontrasse empregada(e bem se tivesse obtido pelo menos um canudo) com família de fresco (dependendo dos objectivos individuais) com uma vida a caminho da estabilidade e pronta para abraçar projectos paralelos (empresariais, de investimento na formação, agrícolas, musicais, tecnológicos, turisticos ou projectos de base e importantes para o país regional e nacional - ou então sem projectos que assim também sabe bem). Falo assim (escrevo, aliás) porque era essa a minha intenção, e a de muitos outros com quem troco ideias, por esta altura. Que ponto se pode fazer: Seja com diploma ou não as coisas estão complicadas. Os projectos, mesmos os básicos, de vida estão por concretizar. Professores, engenheiros, advogados, arquitectos e demais estão (quase) igual ao que estavam no final do curso, só que já sem o cariz sonhador do "isto agora é que vai ser!". Parece também evidente que ninguém contava que ia ser fácil mas o investimento iria compensar. Neste momento uma licenciatura já não chega, noutros locais o problema é a idade ou a falta de experiência - "Multinacional contrata engenheiro de... com 5 anos de experiência até 27 anos etc etc", - coisas por vezes impossíveis, no entanto a malta envia, resultado. Ao envio de CV ninguém dá sequer sinal de vida, qualquer coisa do tipo: "Agradeçemos mas...". Nada, nicles, népia, niente, zero, pevas, patavina...
E então a emigração surge de novo no horizonte deste país e de muitos deles (nós) e dos não tão jovens, sendo que, os que emigraram em tempos e regressaram entretanto, começam a mostrar o seu arrependimento da decisão tomada. Sejam diplomados ou não, a procura de novos lugares é uma realidade num país que começa a parecer apenas um entreposto de turismo das gentes do norte da europa e de fantochadas internas. A natalidade ressente-se com tudo o que foi referido e não sendo eu um iluminado, parece-me que aí é que reside o problema. Com esse arrastam-se outros, parecendo este o jogo da corda onde é por demais evidente que a "imobilidade dos jogadores" tem uma causa e não beneficia ninguém. As famílias, quando se formam, acontecem mais tarde. Mesmo com formação superior a segurança de um emprego ou trabalho não se verifica e para lá de pensar em filhos, a minha geração vê por vezes as relações como uma miragem. Não têm tempo. O dinheiro não estica, aliás encolhe ou então o custo de vida é um desrespeito. Cá para mim é tudo junto. Os horários e tudo o resto não coincidem com um projecto a dois quanto mais familiar. E os políticos? São eles que deviam arranjar isto não é? Hmmmmm divertem-se a brincar às europas e às suas regras e agora falam em flexiseguranças e flexibilidades tais que apenas os cartões partidários parecem poder um dia suportar. O descontentamento pela política verifica-se e pelo país por arrasto. Para onde é que raio isto irá parar? Sinceramente dou voltas à cabeça e não consigo chegar a uma conclusão decente. Não deveria Portugal andar para a frente? Sim eu sei que os nossos pais, globalmente, estavam piores que nós com a nossa idade - Já não se até que ponto acredito nisso - É verdade mas nós deviamos estar melhor pelo esforço feito (por nós, pelas famílias). E volto a dizer, protela-se uma política de incentivo à natalidade (e não estou a pensar em apoios monetários) a qual nos coloca cada vez mais rápido no olho do furacão. Resumindo: A democracia veste-se de vermelho, ou seja, acaba por estar a dar os mesmos passos utópicos que o comunismo. Está a tornar-se impraticável, qualquer dia torna-se indamissível. E a seguir a isso? Bem o resto parece ser história.
PS: E pensar que nunca houve uma geração tão literada como esta.
4 comentários:
Adamastor, compreendo de todo as tuas palavras. Questões que eu própria tenho colocado e ás quais não vejo soluções à vista. De facto, acho que esta geração se encontra numa encruzilhada. Terá talvez a missão de fazer a transição entre gerações mais literadas que se promoveram após 25 Abril e as menos literadas(que continuam ainda no activo), gerações estas que não estão preparadas para compreender, aceitar e motivar as mudanças que os novos tempos implicam.
O que acontece é que por vezes é dificil acreditar que melhores tempos virão, por inúmeras razões, sendo o quadro politico de facto desmotivante. Perante isto, e não querendo penhorar a sua própria vida, resta a emigração...
Não é por acaso que se verifica uma enorme saida de "cérebros" para o exterior, onde são acolhidos e vêm frutos do seu trabalho.
De qualquer forma, a sociedade mudou, não podemos esperar que um canudo nos faculte um emprego para a vida. Já não é mais uma sociedade empregadora como noutros tempos, mas sim empreendedora! O que acontece é que não são promovidos mecanismos eficientes a esta nova realidade. E pergunto-me se algum dia isso acontecerá?
Mas é exactamente isso, o paradigma mudou mas as condições para o fazerem fluir não existem. Não sou contra a mudança quando ela tenha sido bem estudada, ponderada e seja aplicada de modo sustentado. Não creio que seja assim nem de perto nem de longe. Acredito que vamos ser uma geração de transição, que vamos andar sempre atrás de um prejuizo não nosso, de outros mas que somos abrigados a aceitar.
O paradigma mudou, mas a estruturas de decisão não. Continua tudo cheio de vícios e de incompetentes.
A esta geração que sempre cresceu a sonhar com algo melhor, resta descer dos sonhos pegar numa picareta e partir pedra para as gerações vindouras. Vamos a ver se estas saberão aproveitar ...
Gostei de ler, é uma excelente porta para a reflexão e discussão.
A verdade é que Portugal oscila em movimento pendular. Isto trocado para miúdos quer dizer que damos um passo para a frente e outro para trás não saindo do mesmo sítio. Para que um projecto tenha sucesso é necessário em primeiro existir ideias e objectivos bem demarcados. Depois tem que existir uma quantidade considerável de trabalho, capacidade criativa e muita honestidade.
Ora aplicando estes pontos ao nosso país, objectivos quando existem são a curto prazo. Trabalhar até trabalhamos, mas muitas vezes mal e ideias também temos somos um povo experto por onde andámos nunca morremos à fome. Por fim a honestidade, não abunda e torna-se cada vez mais rara.
Existindo uma definição clara de objectivos e o estabelecimento de regras adicionado à natureza do nosso povo, penso que tinhamos um grupo de trabalho respeitável. Enquanto o trabalho dos chefes de grupo não estiver feito, será impossível conduzir o que quer que seja a um bom porto.
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