segunda-feira, março 4

A bola passou para o lado de lá. Há lado de lá? Há quem jogue?

Todas as acções ou actividades concorrem para um ou vários objectivos. Todas elas procuram alcançar algo novo ou, em certos casos, uma melhoria do que existe. A manifestação ou manifestações de sábado não eram ou foram uma demonstração diferente nos seus propósitos. A dinâmica política ou mais concretamente a falta dela não consegue fazer sair o país de uma série escolhos: desemprego crescente e insustentável, uma carga fiscal das maiores da europa sem os proveitos devidos, uma quebra sucessiva de contratos sociais que ambas as partes firmaram mas que uma delas (o estado), pela inépcia dos sucessivos eleitos, não tem a capacidade de cumprir, uma dívida também ela em crescendo a par do défice que se mantém em valores indesejados ainda que os cortes tenham sido demolidores, uma economia em perfeita apoplexia ainda que a revista Forbes indique que os mais ricos do país continuem alive and well. Numa época de frenesin avaliador, questiono-me sobre a avaliação a dar a Gaspar, o técnico "creme de la creme". Um creme azedo, no mínimo, ao sol lusitano...
Voltando à manifestação. Segunda-feira, e começam todos a dar a sua achega ao acontecimento, tal como eu. Não vou pegar nas palavras e letras de outros ditas ou escritas noutros sítios, que foram muitas, variadas e mais ou menos activadas pelos testemunhos de pessoas que realmente passam mal. 
Coisas que ficam: 
- não me interessa saber o número ou sequer uma estimativa, vendo as imagens era muita gente em muitos sítios e isso não se pode negar; 
- também é certo que mais uma vez que chega à conclusão que existe um grupo considerável de pessoas que dança mais ao som deste tipo de demonstrações do que daquelas convocadas pelas forças habituais; 
- fica uma sensação de vazio sobre "o dia seguinte", isto é, feita a demonstração de vontade, como será possível cavalgar esta onda que se gerou - é aqui que reside a força e o calcanhar d'aquiles deste tipo de mobilizações, ou seja, como canalizar agora este discurso, estas intenções, como lhes dar resposta num ente se representatividade, sem cara e com voz disforme e sem timoneiro(s);
- que mensagens recolheram os que, em direito reconhecido em eleições, gerem o país mas de um modo desaprovado por uma faixa da população que já não é passível de passar desapercebida e nem deve;
- que ideia fica de um povo onde a abstenção em actos eleitorais é tão elevada mas que se conseguem mobilizar deste modo? O que está mal? Os partidos obviamente porque a população, bem ou mal, coerentemente ou não, parece ter ideias, tem vontade de as exprimir e deixou deconfiar que o seu voto ou o dos outros (no seu modo eleitoral lambão ou despreocupado) no seu lugar, nos dias assinalados, nos locais próprios seria um modo de estar suficiente para fazer com que o burgo fosse "reinado" de um modo aceitável; 
- e já agora para quem diz que não somos capazes ou inventivos, basta dar uma volta pelos cartazes onde cada qual expressava de um modo bem singelo e muitas mas muitas vezes de um modo inteligente os seus sentimentos sem recorrer ao vernáculo puro que seria certamente o que apetecia. Parem de dizer que os melhores estão a sair porque parece que quem opta por ficar é mentecapto ou não tem valor.
E agora, tal como eu pensava quando nas semanas anteriores ouvia a Grândola? Continua-se a cantar, desta vez os "vampiros"? Uma nota interessante que havia já sobejado do 15 de Setembro foi o desgosto, para não dizer ódio ou asco, que as pessoas guardam ou identificam na pessoa do Presidente da República. O "e agora" de há pouco relaciona-se mais do que seria desejável com a sua pessoa. E agora deveria existir, pelo menos e há falta de outro sentido no interior do governo, de uma voz que tivesse o "poder" de canalizar sentimentos, revoltas em acções democráticas. E como isso não deverá ser feito, e não quero saber da magistratura de influência que disso anda tudo farto, quer ver-se é acções palavras, actos, compromissos claros, que se seguirá? E não se lembrem do PS, pelo amor de Deus... Eu gostava, e gostar aqui é um modo quiçá estúpido de dizer, de ver o país literalmente parado, quieto, estático durante uma semana, em suspenso há espera de que o governo se dignasse a começar a governar. Sou, em alguns aspectos, fã do modo de protestar de Gandhi. 

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