quinta-feira, setembro 13

Ouvindo

Começo a escrever este post às 21:46. Assim sendo o Primeiro-Ministro ainda vai a caminho do final da entrevista ao canal um. Por isso não sei bem o que o resto do tempo ainda vai reservar a todos. Mas acho que era este o momento de escrever algo.
Estou e está tudo chateado com tudo isto. Trabalha-se mais, ganha-se menos, o futuro é cada vez mais sombrio, até o digo por mim que vou leccionar este ano mas para o ano é quase seguro que não. Por isso não tenho um saco de palavras boas para aqui deixar, antes pelo contrário. Ainda assim parei para escrever aqui sobre uma das medidas que tem dado mais celeuma no país: o baixa da TSU. Quero dizer que depois de ouvir o Primeiro-Ministro entendi uma coisa que havia ficado no ar aquando da entrevista de Vítor Gaspar na SIC com José Gomes Ferreira (caro amigo, aprecio muito o seu trabalho). Vítor Gaspar disse que as grandes empresas talvez tivessem que chegar ao ponto de baixar os preços.
Ora quem nunca pensou no seguinte: antes do euro um café custava 50 escudos e depois da entrada do euro passou para 50 cêntimos (o dobro). Nunca houve capacidade para rever esta situação que eu sempre considerei inacreditável e que se manteve sem que o estado pusesse a mão na economia para reverter a situação. Com a baixa da TSU as empresas ficam com capital que qualquer que seja a leitura, é uma transferência do trabalhador para o empregador. Isso dará origem a que os trabalhadores, essenciais para o movimento da economia no país vão ainda ter menos dinheiro mantendo a fome e as necessidades anteriores. Aqui entra a ideia do governo, que entendo, mas que eu acho que pode não correr bem. O estado acredita que devido à ainda menor capacidade de consumo, as grandes empresas, e penso aqui na "shonae" e nas demais retalhistas de peso no sector, vão baixar os preços repondo assim algum poder de compra às pessoas.
Sabemos que as grandes empresas, todos mas todos os anos, apresentam lucros. Dito isto o estado acredita que esta parte dos lucros servirá então para minimizar as perdas nas baixas de preços que irão ser obrigados(?) a fazer. Mas é aqui que a porca torce o rabo: ou são forçados a isso, por posição dominante de mercado ou pela alteração dessa posição através da concorrência (já agora, aquela que não acontece veja-se o texto da nova publicidade da banda larga da TMN -  a falta de concorrência já é às claras) ou então... eu não vejo como.
Para já não falar que apenas as grandes empresas terão capacidade para fazer esse tipo de baixa. Não acredito que as pequenas empresas o possam fazer porque o fundo de maneio, mesmo com a TSU, é pequeno e ainda porque o seu volume de venda é baixo não permitindo por isso esse exercício. Existem outros países com TSU maior? Sim mas ganham mais do que nós e têm maior e melhor tecido empresarial.
Ora ou o estado arranja modo de colocar a concorrência realmente a funcionar (e aqui penso particularmente nos combustíveis - chaga necessária à economia e que cujo custo tudo influência) ou esta ideia que finalmente me fez sentido, não irá funcionar.
Dito tudo isto, continuo a manter a opinião e condeno as outras medidas isto porque são dispares - e aconselho a ouvir a entrevista de Maria Flor Pedroso ao anterior Presidente do Tribunal Constitucional em formato podcast sobre a extensão da inconstitucionalidade dos cortes. A inconstitucionalidade verifica-se na repartição desproporcionada, com perda para os primeiros, dos impostos sobre o trabalho em confronto com os que acertam(?) no capital. É preciso ir ao capital e aos sorvedouros de dinheiros públicos - as PPP's. É nisso tem que se pegar porque os sacrifícios são apenas mensuráveis no dia-a-dia, no fundo do bolso e nas manchetes dos jornais nas pessoas que (ainda) trabalham e não em intenções e negociações de que ninguém sabe o que se passa. Saúda-se a tentativa da explicar tudo, dando-se ao confronto de ideias - faz mais falta isso. Irrita-me é que nestas situação estejam sempre a olhar para o pobre relógio - nunca farão uma merda de uma entrevista que dure o tempo necessário e não estejam sempre a correr?
É preciso actuar nos desempregados. Rápido! E rever de uma vez por todas as funções do estado e o seu alcance, e aqui falo nomeadamente das da educação que não está a ficar mais barata mas está sim a ficar mais pobre, o que é totalmente diferente e grave.
No sábado lá estarei em protesto pacífico e silencioso.

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