sábado, julho 21

Uma vénia ao Contador da História


Não sei bem como começar a discorrer sobre a vida de José Hermano Saraiva. De formação advogado, profissão que exerceu ainda que tenha ficado universalmente conhecido porque percorreu o país português discorrendo sobre a nossa história. E se dentro do meio, dos historiadores, a sua contribuição foi controversa, é inegável que a sua actuação permitiu que a história de Portugal chegasse a casa das pessoas. Foi como um democratizador da mesma, não agradando a todos, como é apanágio dos homens que se colocam diante de grandes empreitadas.
Também foi ministro da educação e viveu, como tal, a maior e talvez o primeiro sinal de que algo estava a mudar naquele Portugal de brandos costumes e mais brandas atitudes. Terá tido muitos defeitos mas, para mim, teve a maior virtude: tentou educar o pagode. E qual é o pior inimigo de um governo? É a cultura do seu povo. 
Perdeu o país é certo e ninguém é insubstituível pelo simples facto de que à frente virá alguém melhor ou pior mas que seguramente fará as coisas de modo diferente e, por vezes, é nesse diferente modo de fazer, nesse acontecer que o bicho homem rebola mais uma volta para a frente. Só as pedras paradas ganham musgo e com tanta gente a nascer, não cá como sabemos, não corremos nunca o risco de estagnar. Tentemos é não andar para trás, reviver a história da qual aprendemos sobre os erros mas que não carece repetir. Jamais. E nisso, este homem, ajudou-nos como poucos nos últimos trinta ou quarenta anos. Para o bem e para o mal, haveria de haver um José Hermano Saraiva a nível europeu porque algo me diz, nesta época de incertezas e desencontros no âmago e na essência do projecto europeu, onde o pagode maior é governado pela primeira fornada de dirigentes europeus sem memória da segunda guerra mundial, que faria falta alguém que relembrasse o passado, já empoeirado noutro século, mas que está longe de estar distante. Apenas das mentes e dos olhos de quem lá esteve mas parece ainda nos diferentes códigos genéticos. Ela está escrita sim senhor mas o raio dos livros não se lêem sozinhos e os de economia e finanças não trazem notas de rodapé deste mester.

Post scriptum: e dos ministros de Salazar sobra apenas outro nome grande - Adriano Moreira.

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