segunda-feira, junho 11

Open your eyes, please


Este fim-de-semana que passou participei numa actividade nova. E digo nova na perspectiva de que ela englobou uma série de factores que havia já vivenciado mas em separado (o voluntariado, o trabalho com pessoas com dificuldades cognitivas). Participei numa actividade designada de Opening Eyes no âmbito do Special Olimpics Portugal. O Opening Eyes, para além deste interessante jogo de palavras, consistiu numa actividade de voluntariado onde o foco principal era o rastreio visual de crianças / adolescentes / adultos com, chamemos-lhe, falhas cognitivas mais ou menos profundas. O desafio era de encher o peito uma vez que não sabia bem o que ia encontrar estando apenas consciente que a improvisação, a dedicação e o empenho eram fundamentais.
Não fui como técnico (um abraço ao porreiro do David, hei-de ir beber uma a Alcochete, fica prometido), não fui como optometrista ainda que tenha vindo de lá com mais luzes do que aquelas que tinha, fui sim como voluntário género "canivete suíço". Ajudei os optometristas amigos meus de universidade e outros que, estando lá na minha época, não tive a sorte ou o privilégio conhecer. Técnicos muito competentes, dedicados, preocupados, com sentido de missão e que trabalharam como devia ser sempre, em equipa, partilhando ideias, dúvidas, casos curiosos e também momentos de pura galhofa :) Não era por nada que me dava mais com esta malta do que até com parte de pessoas do meu curso.
Ao ter sido aquela "mosquinha" que estava presente nos gabinetes pude ver que existem realmente muitos caminhos para Roma e que muitas vezes ele até pode estar feito mas se o "cliente" que levamos não quiser ir por ali, é preciso inventar caminho havendo na realidade infinitos caminhos para chegar ao fim pretendido. E também que por vezes as dificuldades, por mais que se tente, não permitem chegar ou perfazer todo o protocolo estabelecido. Isso já o havia vivido como professor as vezes suficientes para o ter percebido. E ir um atrás e não fazer vir atrás de nós. Assim pude também perceber que o protocolo de trabalho, na minha modesta perspectiva, deve ser adaptado a pessoas com estas dificuldades seja por diferentes estímulos, ambiente do gabinete, materiais dedicados e ao próprio protocolo de análises uma vez que ali o tempo parece-me ser ainda um dos factores mais importante, sendo que este já o é nos casos normais. Certo tenho que este tipo de actividades deveria ser obrigatório pela saúde, neste caso, visual das pessoas.
Espero ter sido útil ao ponto que seria necessário. 
Depois deu para ver que todo o apoio que as associações puderem usufruir será sempre bem-vindo e bem empregue. Não existem almoços grátis mas ali dá-se mais do que isso, dá-se tempo algo que hoje é uma "moeda" algo cara. O trabalho com pessoas com problemas cognitivos exige uma capacidade mental forte e se bem que de início se estranha e depois se entranha, como tudo, é preciso ter força mental e até física para poder lidar com elas. É necessário a sociedade civil estar atenta e predisposta a participar. 
Vinha na viagem de volta a lutar contra o sono e ao fazê-lo pensava que não por imposição mas por motivação deveriam, por exemplo, os jovens serem aliciados com uma menor taxa nas propinas ao participarem voluntariamente nestas associações criando assim uma espécie de estado de normalidade na consciência cívica das pessoas em ajudar e não que isso fosse um caso pontual ou que jamais acontecesse.
E depois porque nem só de trabalho se faz o homem, dar uma nota para o final das noites que, ainda que o corpo moesse, houve sempre energia para uma amena cavaqueira e umas risadas porreiras. Conheci um pessoal porreiro e para eles(as) um abraço.
Para final só um alerta. Opening Eyes foi uma actividade, como muitas outras, que vivem no mais perfeito, ou quase, anonimato e isso é um permanente tiro no pé. É preciso dar nota de que estas actividades existem porque elas realmente oferecem mais-valias concretas à sociedade. Estas actividades têm que sair à rua e dar nota de que existem e o banco alimentar, noutra dinâmica é certo, é o exemplo do reconhecimento de que dar é bom, importante e deve fazer parte de nós como sociedade comprometida com ela própria.


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