Estive pela hora do jantar a ver uma notícia sobre as pessoas que, ainda eu estou a um terço de sono de ser arrancado do mesmo pelo despertador, já elas levam quase meio dia de vigília e com, pelo menos, um par de horas de trabalho ao corpo.
Como sempre estas coisas custam algo a ver, não pelo que me custa a encarar mas sim pela diferença que afastam as vidas entre si. Se uns às 6h da manhã já andam em bolandas, literalmente, como sardinhas em lata pelos transportes da capital eu ainda estou na cama a dormir quente e sossegado. Seria crível que pelo menos esses trabalhos e horários fossem de algum modo recompensados uma vez que aquela hora é própria do sossego horizontal. Mas não. Uma senhora comentava que ganhava 210 euros ao mês por 3h, deduzi, diárias.
Não estudou? Pois talvez ainda assim algo me diz que a sua vida não se compagina com a possibilidade de, num rasgo de raiva, o tentar fazer, se licenciar e com isso poder aspirar a outra remuneração e/ou a outros horários.
Uma outra senhora acordava a sua filha à 5h para que esta pudesse beneficiar da boleia que o pai dava à mãe, ainda que a escola só arrancasse passado mais de 3h. E esta senhora, que ainda tinha mais dois filhos, dizia que o que ganhava, perto do ordenado mínimo dava para pouco mais do que pagar a casa e que todas as despesas supervenientes ficavam a cargo do ordenado do marido... colector de ferro velho (nem sabia que ainda andavam por aí como os amola-tesouras) pela cidade de Lisboa. Estas vidas são...miseráveis mas o que mais me incomoda verdadeiramente é que em cada caso existia (não só mas este é evitável) um denominador comum: filhos. E é recorrentissimo pensar nestas ocasiões: Por que raio têm estas pessoas filhos!? Se já nem para elas o seu rendimento é possível, porque sujeitar, por exemplo, a pequena Raquel a acordar às 5h da manhã quando a escola só inicia às 8h30?
Juro que não entendo. Bem sei que a taxa de natalidade do país é ridícula e que também ela contribui em certa forma para o empobrecimento nacional mas assim também não me parece que ninguém ganhe. Terá que haver um dia em que realmente a escola seja o factor diferenciador na vida das pessoas, que lhe garanta a igualdade que a sociedade continua a não lhes dar e que seja a partir desses bancos da escola que se minimizem as clivagens que existem e que levam a que a Raquel, perto da hora do almoço não consiga prestar atenção ao professor porque a borracheira de sono é tal que nem a mais cavernosa chamada de atenção a possa trazer a convívio da turma. Está mal, porra, e nada muda porque os políticos são os e como são - não prestam. A imagem diz muito (a do tópico das maiores verdade que já li), todas elas e a sequência que a RTP passou hoje a reportagem de Domingo pela noite na SIC sobre abandono escolar universitário mostra que nada muda, a não ser para pior e é por isso que não encontro aqui, na imensidão do branco da página, sustentação possível para ainda escrever sobre as dores que vejo por aí nos olhos, peito ou mãos das pessoas que dão forte e feio e o amanhã é odioso como o ontem.
PS: Ontem a Ana Bola, no 5 para a meia noite, comentava que pela contas da segurança social, lhe cabia uma reforma de 400 euros. Não sei os seus descontos mas parece-me pouco e tal mais incrível como o que o estado continua a fazer ao sustentar a mama, por exemplo, de Mário Soares para quem parece que a pena na prisão durante o estado novo levou a uma dívida incomensurável e incompreensível deste povo para com singela e cada vez mais desprezível criatura. Hoje, já ias tarde.
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