domingo, dezembro 4

O melhor número 8 da história


Não me posso queixar mas a vida vai fazendo questão de me lembrar que os seus dias pululam num num equilíbrio entre a alegria e a tristeza. Hoje acordei com a notícia de que morreu Sócrates. Sócrates, o nome, apresentou-se-me na figura de um jogador de futebol esguio, barbudo, raçudo, de passada larga e que, mesmo habitando em posição o meio-campo do lado direito, tinha um hábito terrível de fazer o gosto ao pé. Só o via quando a selecção brasileira jogava, uma selecção que até metia medo tal o modo como o bola se divertia com eles. Foi a primeira equipa de futebol que vi transpôr para o relvado, no meu entender, o ideal de desporto dos famosos Harlem Globetrotters - pure joy. Pena tive uma vez que o seu ponto alto, o Mundial em Espanha em '82, me apanha ainda muito novinho e quando tomei noção do que via estes entraram na normal fase de reconstrução das selecções mas as imagens e videos nunca se me varreram do imaginário. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, Doutor Sócrates, Doutor ou simplesmente Sócrates encarnou provavelmente o protótipo inicial de jogador de futebol que foi o meu ídolo - que o seu nome fora do vulgar não me deixou escapar - médio box to box com capacidade quer para defender quer para dar cabo do jogo com a sua capacidade técnica. Guardo-o como um jogador modelo.
Não sabia mas a sua posição relativa aos direitos dos homens, a par de quebrar com o estigma de que os futebolistas também poderiam ser inclusive médicos (algo que não era novidade cá no burgo com as fantásticas equipas da académica recheadas de doutores), foi uma luta em que se imiscuiu do mesmo modo como lutava cada bola e isso foi uma novidade que me agradou sobremaneira. Para finalizar não sabia mas descobri: nasceu no mesmo dia que eu. Um senhor que sucumbiu apenas porque como todos os homens grandes, respeitou os outros mas não o soube fazer a si próprio. Antes dele, Sócrates, não havia outro e agora também não. Paz à sua imensa alma e guardo a imagem da sua enorme felicidade, de punho cerrado e de braço esticado a comemorar um golo, seu ou da equipa, porque era assim, um coração grande.

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