segunda-feira, setembro 12

Flashback


Lembro-me de ter terminado de almoçar e eu e o meu pai, que dava uma volta no jornal diário, estavamos sentados na sala, eu vendo o noticiário da tve como era hábito lá em casa após as duas da tarde quando o mesmo irrompe numa última hora: avioneta choca contra wtc. Pensei: "que raio... como uma coisa tão pequena (julgava-se ser um cesna) não conseguiu desviar-se de tamanho arranha céus?" e depois vejo o outro a passar e a desaparecer para depois se transformar num golpe de fogo na barriga da outra torre. Não me recordo das palavras certas mas... "carago, outro!" e o meu pai "não pode ser!?" mas foi. E ele logo disse: "isto não é normal, passa-se algo" e assim era. Após isso foi uma catadupa de informações das quais os próprios pivot's da tve não conseguiam dar abasto ou sequer lhes faziam sentido tal era a incredulidade do momento. Recordo que após isso fui até à universidade e a aula acabou por redundar naquelas imagens. Só queria chegar a casa para saber tudo, numa saciedade quase mórbida numa alma geralmente em sossego. Acompanhei as coisas, vi e tirei fotos pela internet e vi o mundo a entrar na espiral que se seguiu. Seguiram-se factos que ainda hoje não se explicam e as teorias conspirativas de que um país do primeiro mundo, temente da liberdade e da honestidade deveria dissipar. Morreram directamente nos ataques 2977 pessoas mas sabe-se hoje que muitas mais, quiçá um milhar, já terão perecido devido a terem participado nas operações de resgate que, em função dos resultados, rápido se transformaram em operações de rescaldo. Amianto, plásticos vários, combustível de avião, vernizes, tintas e outros materiais foram consumidos pelos incêndios e o resultado foi uma área coberta por uma atmosfera que acabou por condenar os voluntários a uma via-sacra maior do que a de aqueles que não viram o dia seguinte. Para uns a morte foi quase instantânea para estes será penosa. Do conjunto de fotos que tirei nos dias seguintes não esqueço uma que alguém tirou apontando para o buraco causado pelo embate do primeiro avião. Lá é possível ver uma pessoa, de pé, como se estivesse no seu escritório com um café nas mãos olhando o skyline de Nova Iorque. Aqui, hoje, optei por colocar uma que talvez não tenha tido as páginas de jornais como muitas outras, ou a imagem do avião a desaparecer de trás da segunda torre, mas sim a da última viga a ser retirada do ground zero (maximizem). Não sei porquê mas pareceu-me mais simbólico para todos, inclusive para os que, aos dias de hoje, se debatem com doenças respiratórias dignas de estudos médicos apenas possíveis em acontecimentos desta magnitude que, qual Hiroshima, permitem verificar a resiliência do Homem.

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