quarta-feira, dezembro 1



Hoje perdi um amigo, um tio, o meu tio João. Estou triste ao ponto da dor comer tudo o que sou, de me fazer forte estando amargurado para sempre. Contorce-me por dentro, esfrangalha-me a alma e destila-me o corpo que brota água como raras vezes o fez, na adultez. Estou demasiado triste. Deito fora todas as alegrias duma vida que já não volta e as saudades de agora e vindouras, tornadas dor, em estado líquido. Já é a segunda vez na vida e não há direito, não há sentido. Diz-se que um pai nunca deveria ver partir um filho. Eu digo que nunca ninguém deveria ver partir os bons. O meu tio João. O meu tio da força imensa, do olhar azul clarinho, de uma bondade extrema, do espírito engenhoso, da voz meiga, de uma malandrice sem par. O meu bom gigante. O meu tio. O meu amigo. Estou triste que nem sei, acho que estou triste para a vida toda. Escrevo daqui a minha carta de Natal: quero os meus tios de volta.

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