terça-feira, abril 13

O (em) mau Estado.



Durante estes dias de pausa aproveitei para ir espairecer, em jeito de escapadinha, para os lados de Sintra. Uma zona que se assemelha a um museu ao ar livre. Estradas em jeito de livro queirosiano, com bermas atapetadas de árvores frondosas, um ar fresco de elixir que preenche os pulmões que temos e quereríamos ter, pormenores por ali, por maiores acolá e poucos olhos ou sentidos para assimilar tamanha beleza que o homem e a natureza nos oferecem com supra displicência. Muito bonito, sem dúvida, uma overdose do sublime. O tempo ali parece parar, se bem que voa e apenas a escuridão forçada nos retorna ao limite do real.
Mas a viagem e a visita mesmo toda a sua oferta estimulante reportaram-me ao país que temos e não ao que queríamos ter, ao Portugal dos “Allgarves”, do olvido, da falta de projecção, de visão, de culto da identidade nos orgulha ou devia orgulhar. Visitei desde Mafra a Sintra quase tudo o que existe num guia “camone” ou “chininho” para flashar e não se entende como, por exemplo, o Palácio da Pena não merece um reparo digno da sua importância. O estado Português não trata bem o presente, não prepara o futuro mas sempre pensei, até pela imagem que passamos, pelo imenso gentio que visita os nossos símbolos que esta parte de Portugal ancorada por sinal, ao mais querido litoral, fosse mais acarinhada. Enganei-me. Não vou listar o que vi e desgostei nos monumentos, não porque fui pagante, não por ser Português mas não deixo de assinalar esse decrépito, nalguns casos, estado da nossa herança. Eu bem sei que a esfinge no Egipto não tem nariz e que isso faz parte do seu charme, é sucesso nas fotos mas ao Palácio da Pena sobra o verdete das infiltrações, a pintura desvanecida ou tantas outras coisas. Sublinho o contributo de mecenas ou de privados que tomam para si a posse de alguns dos edifícios, Quinta da Regaleira por exemplo, e que nestes são visíveis a sua contribuição constante.
Um país mede-se pelo grau de cultura do seu povo, disse alguém certo dia. Atrevo-me a dizer que este mede-se pelo grau de cultura do seu povo e do modo como trata o seu tempo passado, presente e futuro. Portugal era o mesmo país sem tratar dos seus monumentos? Claro que não e por isso não deveríamos deixar que tudo acontecesse como muitas outras coisas. É o país que temos mas não tem que ser o país que queremos.

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